Páginas

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Poesias de Cecília Meireles

O crítico Flávio Loureiro Chaves anotou que a poesia de Cecília Meireles vive “engolfada na torrente do tempo”, em meio a uma grande angústia, imersa num “deserto opaco”, sem passado e sem futuro. “Não há passado / nem há futuro. / Tudo que abarco / se faz presente” – diz a poeta. Sua experiência é, portanto, uma experiência do vazio, já que ela não encontra possibilidade de comunicação com o mundo circundante. Nisto residiria o vínculo da autora com a modernidade estética, já que esta tem entre suas características ideológicas as sensações do absurdo e da falta de sentido da vida contemporânea.Diante da “navegação sem estrelas”, que é a trajetória humana, resta à Cecília apenas o canto, isto é, a celebração do ato de criação poética, único enfrentamento da artista contra um universo despossuído de significado.

A Temática dos Poemas de Cecília Meireles

Igualmente no plano dos assuntos, a poesia de Cecília Meireles revela ligações com várias estéticas tradicionais, especialmente o Simbolismo. Entre os seus motivos dominantes figuram:
- O registro de estados de ânimo vagos e quase incorpóreos. Neles predomina uma difusa melancolia e uma noção de perda amorosa, abandono e solidão.
- Uma aguda consciência da passagem do tempo, da brevidade enganosa de todas as coisas, sobre modo dos sentimentos. A atmosfera de dor existencial que emana dos poemas de Cecília Meireles é centrada na percepção de que tudo passa e de que o fluir do tempo dissolve as ilusões e os amores, o corpo e mesmo a memória. Um exemplo desta visão sofrida é Retrato: "Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio tão amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por conta esta mudança,tão simples, tão certa e fácil: Em que espelho ficou perdida a minha face?"


Fonte: http://poesia-de-cecilia.blogspot.com/2009/08/caracteristicas-dos-poemas-de-cecilia.html

Linguagem dos Poemas de Cecília Meireles

No plano estilístico – ao contrário do coloquialismo dos poetas modernos – há em sua obra uma tendência à linguagem elevada, sempre carregada de musicalidade. A música, algumas vezes, parece ser mais importante que o próprio sentido dos versos. Também a exemplo dos simbolistas, as palavras para a autora mais sugerem do que descrevem. Daí a força das impressões sensoriais em seus poemas: imagens visuais e auditivas sucedem-se a todo momento:O rumor de suas penasera um rumor de fontesbrancas em tardes morenas.Ressalte-se que certas palavras que aparecem continuamente em seus versos, tais como música, areia, espuma, lua e vento, acabam, por sua repetição obsessiva, adquirindo uma dimensão metafórica. Simbolizam o efêmero, aquilo que passa (em geral, os sentimentos do eu-lírico). Opõem-se, por exemplo, à palavra mar, que é a grande metáfora daquilo que permanece (em geral, o sofrimento).

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Modernismo Brasileiro (3 fases)

Modernismo  


Iniciou-se no Brasil com a SAM de 1922. Mas nem todos os participantes da Semana eram modernistas: o pré-modernista Graça Aranha foi um dos oradores. Apesar de não ter sido dominante no começo, como atestam as vaias da platéia da época, este estilo, com o tempo, suplantou os anteriores. Era marcado por uma liberdade de estilo e aproximação da linguagem com a linguagem falada; os de primeira fase eram especialmente radicais quanto a isto.
Didaticamente, divide-se o Modernismo em três fases: a primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; uma segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada Pós-Modernismo por vários autores, que se opunha de certo modo a primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de neoparnasianismo.

1º Fase (1922-1930)


Caracteriza-se por ser uma tentativa de definir e marcar posições. Período rico em manifestos e revistas de vida efêmera.
Um mês depois da SAM, a política vive dois momentos importantes: eleições para Presidência da República e congresso (RJ) para fundação do Partido Comunista do Brasil. Ainda no campo da política, surge em 1926 o Partido Democrático que teve entre seus fundadores Mário de Andrade.
É a fase mais radical justamente em conseqüência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Caráter anárquico e forte sentido destruidor.
Principais autores desta fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.

2º Fase (1930-1945)

Estende-se de 1930 a 1945, sendo um período rico na produção poética e também na prosa. O universo temático se amplia e os artistas passam a preocupar-se mais com o destino dos homens, o estar-no-mundo.
Durante algum certo tempo, a poesia das gerações de 22 e 30 conviveram. Não se trata, portanto, de uma sucessão brusca. A maioria dos poetas de 30 absorveria parte da experiência de 22: liberdade temática, gosto da expressão atualizada ou inventiva, verso livre, anti-academicismo.
A poesia prossegue a tarefa de purificação de meios e formas iniciada antes, ampliando a temática na direção da inquietação filosófica e religiosa, com Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, ao tempo em que a prosa alargava a sua área de interesse para incluir preocupações novas de ordem política, social e econômica, humana e espiritual. À piada sucedeu a gravidade de espírito, a seriedade da alma, propósitos e meios. Uma geração grave, preocupada com o destino do homem e com as dores do mundo, pelos quais se considerava responsável, deu à época uma atividade excepcional.
O humor quase piadístico de Drummond receberia influencias de Mário e Oswald de Andrade. Vinícius, Cecília, Jorge de Lima e Murilo Mendes apresentam certo espiritualismo que vinha do livro de Mário Há uma gota de Sangue em cada Poema (1917).
A geração de 30 não precisou ser combativa como a de 22. Eles já encontraram uma linguagem poética modernista estruturada. Passaram então a aprimorá-la e extrair dela novas variações, numa maior estabilidade.
O Modernismo já estava dinamicamente incorporado `as praticas literárias brasileiras, sendo assim os modernistas de 30 estão mais voltados ao drama do mundo e ao desconcerto do capitalismo.

3º Fase (1945-1960) 

A literatura brasileira, assim como o cenário sócio-político, passa por transformações.
A prosa tanto no romance quanto nos contos busca uma literatura intimista, de sondagem psicológica, introspectiva, com destaque para Clarice Lispector. Ao mesmo tempo, o regionalismo adquire uma nova dimensão com Guimarães Rosa e sua recriação dos costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia do jagunço do Brasil central. Um traço característico comum a Clarice e Guimarães Rosa é a pesquisa da linguagem, por isso são chamados instrumentalistas. Enquanto Guimarães Rosa preocupa-se com a manutenção do enredo com o suspense, Clarice abandona quase que completamente a noção de trama e detém-se no registro de incidentes do cotidiano ou no mergulho para dentro dos personagens.
Na poesia, surge uma geração de poetas que se opõem às conquistas e inovações dos modernistas de 22. A nova proposta foi defendida, inicialmente, pela revista Orfeu (1947). Assim, negando a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras “brincadeiras” modernistas, os poetas de 45 buscam uma poesia mais “equilibrada e séria”. Os modelos voltam a ser os Parnasianos e Simbolistas. Principais autores (Ledo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Geir de Campos e Darcy Damasceno). No fim dos anos 40, surge um poeta singular, pois não está filiado esteticamente a nenhuma tendência: João Cabral de Melo Neto.

domingo, 15 de maio de 2011

Características do poema

Ritmo
Apresenta ritmo particular dos versos, ou seja, o modo como o verso entoa no ouvido do leitor, escutando ou lendo poemas. O seu ritmo é resultante da alternância entre as sílabas fortes (tônicas) e as sílabas fracas (átonas). E pode ser medido, como mostram as regras de versificação ou metrificação.


Versificação ou Metrificação
Reúne um conjunto de regras que determinam quais sílabas do verso devem ser acentuadas (pronunciadas com mais força).


Prosa Poética e Poema em Prosa
Características: graficamente, apresentam-se como prosa, ocupando linearmente a página, e ao serem lidos, revelam ritmo e sonoridade próximos dos da poesia.


Poemas em Versos Polimétricos
Poemas em versos de vários tamanhos, todos regulares, obedecendo às regras de acentuação.


Verso Livre
Caracterizado por não apresentar sílabas fortes em posição fixa. A flexibilidade do ritmo permite que o leitor o modifique, fazendo com que as sílabas fortes oscilem de posição, tão livres quanto o verso em que figuram.


Sílabas Poéticas
Nem sempre se identificam com as sílabas das palavras fora do poema. Elas dependem do ritmo, no contexto do poema. Por isso, a leitura do verso para a metrificação deve ser feita levando em conta apenas a musicalidade do verso e não o sentido. Nos casos de encontro de vogais, ora elas se juntam em uma única sílaba poética, ora se separam em sílabas diferentes. Lembre-se de que a contagem se detém na última sílaba tônica ou acentuada do verso.


Soneto
O soneto é uma composição poética de 14 versos, sendo dois quartetos e dois tercetos. Os versos de um soneto são decassílabos (sílabas acentuadas 6-10 ou 4-8-10)


Decassílabo heróico: decassílabo que tem dois acentos.


Decassílabo sáfico: decassílabo que tem três acentos.


Versos Curtos: uma e duas sílabas poéticas.
Ex: “On/da – ER: 1
       Mor/no – ER: 2
       con/tor/no – ER: 2
       da /on/da – ER: 2
       re/don/da... – ER: 2
       [...]”


Versos de três e de quatro sílabas poéticas
Ex: “Ca//com /pão – ER: 2,4
        Ca//com /pão – ER: 2,4
        Ca//com /pão – ER: 2,4
        [...]
        Pas/sa /pas/to – ER: 1,3
        Pas/sa /boi – ER: 1,3
        Pas/sa /boi/a/da – ER: 1,4
        [...]”


Redondilha menor ou verso de cinco sílabas
Ex: “[...]
       Mus/go /da /pis/ci/na, - ER: 1,5
       de u/ma á/gua /tão /fi/na, - ER: 2,5
       so/bre a /qual /se in/cli/na - ER: 1,3,5
       a /lu/a e/xi/la/da - ER: 2,5
       [...]”

Redondilha maior ou verso de sete sílabas
Ex: “A/qui /ter/mi/no, /lei/to/res,
       Es/ta his//ria in/te/res/san/te,
       Que /es/cre/vi /de /bra/vu/ra
       E a/nun/ci/o ao /mes/mo ins/tan/te
       Um /no/vo /li/vro /de a/mor
       Pe/lo /mes/mo /tro/va/dor
       Ro/dol/fo /C. /Ca/val/can/te.”


Decassílabo ou verso de dez sílabas
Ex: “Mas /já o /pla/ne/ta /que /no /céu /pri/mei/ro
        Ha/bi/ta, /cin/co /ve/zes, /a/pres/sa/da,
        A/go/ra /me/io /ros/to, a/go/ra in/tei/ro
        Mos/tra/ra, en/quan/to o /mar /cor/ta/va a ar/ma/da,
        Quan/do /da e//rea //vea um /ma/ri/nhei/ro
        Pron/to /co’a /vis/ta: / ‘Ter/ra! /Ter/ra!’ /bra/da.
        Sal/ta /no /bor/do al/vo/ro/ça/da a /gen/te,
        Co’os /o/lhos /no ho/ri/zon/te /do O/ri/en/te.”

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Semana da Arte Moderna



A Semana de Arte Moderna foi um evento ocorrido em São Paulo no ano de 1922 no período entre 11 e 18 de fevereiro no Teatro Municipal da cidade. Durante os sete dias ocorreu uma exposição modernista no Teatro e nas noites dos dias 13, 15 de fevereiro e 17 ocorreram apresentações de poesia, música e palestras sobre a modernidade.

Representou uma verdadeira renovação da linguagem, na busca de experimentação, na liberdade criadora e na ruptura com o passado. O evento marcou época ao apresentar novas idéias e conceitos artísticos. A nova poesia através da declamação. A nova música por meio de concertos. A nova arte plástica exibida em telas, esculturas e maquetes de arquitetura. O adjetivo "novo", marcando todas estas manifestações, propunha algo a ser recebido com curiosidade ou interesse.

Participaram da Semana nomes consagrados do Modernismo brasileiro, como Mário e Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia

Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/arts/1765608-semana-arte-moderna/

terça-feira, 3 de maio de 2011

Biografia Cecília Meirelles (1901-1964)


A obra poética de Cecília Meireles ocupa lugar singular na história das letras brasileiras por não pertencer a nenhuma escola literária. Alta expressão da poesia feminina brasileira, inclui-se entre os grandes valores da literatura de língua portuguesa do século XX. Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro RJ em 7 de novembro de 1901. Órfã muito cedo, foi educada pala avó materna e diplomou-se professora pelo Instituto de Educação em 1917. Viajou pela Europa, Estados Unidos e Oriente e logo dedicou-se ao magistério. No exercício da profissão, participou ativamente do movimento de renovação do sistema educacional brasileiro. Fundou, em 1934, a primeira biblioteca infantil do país e, de 1936 a 1938, lecionou literatura luso-brasileira, técnica e crítica literária na universidade do então Distrito Federal. Ensinou na Universidade do Texas (1940) e colaborou na imprensa carioca, escrevendo sobre folclore, tema de sua especialidade. Depois de um começo neoparnasiano, com o volume Espectros, 17 sonetos de tema histórico, lançado em 1919, publicou dois livros de poemas de inspiração nitidamente simbolista: Nunca mais... o poema dos poemas (1923) e Baladas para el-rei (1925). De 1922 em diante foi atraída pela recentemente deflagrada revolução modernista. Aproximou-se do grupo literário Festa, ao qual não chegou porém a pertencer, mantendo a independência que sempre a caracterizou. Foi com Viagem (1938), premiado pela Academia Brasileira de Letras depois de um acalorado debate suscitado pelo modernismo, que se deu a afirmação plena das qualidades que caracterizam a obra de Cecília Meireles: intimismo, lirismo, tendência ao misticismo e ao universal, e retorno à fonte popular, em versos de grande beleza e perfeição formal. A partir desse livro, firmou-se sua integração ao modernismo, como resultado de uma evolução estética e pessoal que iniciou-se no parnasianismo, passou pelo sombolismo e assimilou técnicas herdadas dos clássicos, dos gongóricos, dos românticos e dos surrealistas. Cecília Meireles reafirmou a importância de sua contribuição à poesia da língua portuguesa em vários outros livros, entre eles Vaga música (1942); Mar absoluto (1945); Retrato natural (1949); Doze noturnos da Holanda (1952); Romanceiro da Inconfidência (1953); Metal rosicler (1960); Poemas escritos na Índia (1962); Solombra (1964) e Ou isto ou aquilo (1964). Em português clássico, a autora serviu-se de todos os metros e ritmos com a mesma flexibilidade, a fim de construir uma obra ao mesmo tempo pessoal e universal. Morreu em 9 de novembro de 1964, no Rio de Janeiro.